Certa vez uma colega me contou sobre um estrangeiro que decidiu empreender no Brasil. O país ia sediar a Copa do Mundo em breve, então ele vislumbrou um enorme potencial, uma vez que uma pequena parte da população é fluente em inglês.
Ele acreditou que a demanda por falantes deste idioma explodiria por causa da vinda de muitos turistas estrangeiros para o evento.
Investiu alto na abertura de uma escola de inglês em um centro financeiro em São Paulo e convenceu a esposa a deixar o seu emprego para juntar-se a ele nessa empreitada.
Porém, não houve a procura esperada e os alunos se matricularam logo desistiram. Acabaram quebrando pouco tempo depois.
Um ponto nesta história que me chamou atenção foi o fato de eles analisarem apenas-e-tão-somente os dados sobre o percentual da população brasileira que fala inglês e se esquecerem de acrescentar uma palavrinha antes disso tudo: “por que”.
Por que no Brasil apenas uma pequena parte da população é fluente em inglês?
De acordo com pesquisa realizada pelo British Council em parceria com Instituto de Pesquisa Data Popular, apenas 5% da população brasileira fala inglês, sendo que 1% possui fluência total no idioma. (1)
E isso não é por falta de escolas de inglês e nem de professores, ofertando cursos presenciais e on-line. Hoje você pode estudar enquanto espera na fila do banco com um professor do outro lado do mundo.
Muitos se matriculam e poucos seguem adiante. Por que a evasão dos cursos de inglês é alta?
Desconsiderando razões financeiras e pessoais, nota-se que as dificuldades iniciais na aquisição do inglês e consequente frustração são as principais razões para a desistência logo no início. Neste artigo vamos abordar aquele que é o primeiro desafio com o qual o aluno se depara: compreensão auditiva, ou listening, como é conhecido nas aulas de inglês 😊.
Por que o dominar o tal do listening parece ser algo para poucos?
O primeiro contato que a maioria tem com a língua inglesa é no ensino público (este foi o meu caso). O foco era a gramática e em raras ocasiões tínhamos alguma chance de conversação, geralmente sob a zoação dos colegas…
Lembro-me de terem me ensinado que “ea”, “ee” e “i” têm o mesmo som em inglês, então sheep (carneiro, ovelha) e ship (navio) teriam a mesma pronúncia assim como beach (praia) e bitch (puta), certo?
Errado!
Uma das (muito) prováveis fontes do problema de compreensão auditiva é que fomos condicionados ao erro.
A professora de inglês Verônica Bickel, que ministra aulas de inglês há quase 30 anos, gravou a pronúncia correta das palavras mencionadas acima:
Aprende-se a pronunciar errado e espera-se ouvir este som (errado) quando se está falando com um nativo. Resultado: incompreensão.
Além disso, querer dizer algo e dizer outra coisa totalmente diferente (pensando nos exemplos acima) pode colocar alguém em uma situação bem embaraçosa.
Ora, depois de estudarmos inglês (mesmo que apenas por 40-50 minutos semanais) desde a 5ª até a 8ª série, como reprogramar o cérebro para discernir o que chega aos ouvidos?!
A letra representa o som em vez de “ter” o som. Quando aprendemos inglês – ou outro idioma – por ser algo novo, geralmente fazemos um paralelo com a única língua que conhecemos: a materna. O aluno iniciante tende a ler palavras e textos em inglês e-xa-ta-men-te como são pronunciados em português, amarrando-se a isso!
Quanto mais o foco recair no que está escrito, menos os ouvidos se “abrem” para o padrão de sons e suas combinações do inglês.
A professora Verônica dá algumas dicas de como melhorar o seu listening:
1- Praticar a pronúncia dos sons para se familiarizar com todos os sons do inglês. Focar no som das palavras – o cérebro começará a reconhecer que esses são os sons que existem na língua inglesa;
2 – Praticar entonação, ritmo e tônica das frases e ficar atento às reduções como nas frases “What do you…?” e “What are you…?” que, na oralidade, são reduzidas e soam como uma única palavra /whadaya/ ou
“Will you…?” que soará algo como /uiliul/ – isso vai ajudar a identificar e compreender melhor quando ouvi-las;
3 – Transcrever um texto – utilizar um texto de aproximadamente um minuto de extensão, ouvir várias vezes e escrever o que ouve, deixando em branco as partes que não ficarem tão claras ou mesmo tentar prever qual/ quais seria(m) a(s) palavra(s), ou reduções (como exemplos mencionados no item 2) que caberiam nesses espaços. Depois disso, olhar a transcrição para verificar o texto.
Trabalhar a sua compreensão auditiva é o caminho certo para você também melhorar a sua pronúncia, assunto que deixo para outro artigo.
E bora desenrolar o inglês!
Quer começar a aprender ou melhorar o seu inglês? Deixo aqui o contato da professora Verônica Bickel, que gentilmente atendeu ao convite para participar deste artigo:
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